Células, você sabe o que são: as pequenas unidades que formam todos os seres vivos. Mas... e as células-tronco? Será que já ouviu falar sobre elas? Esse tipo de célula é a esperança da medicina para curar inúmeras doenças. Porém, falar sobre essas minúsculas estruturas do nosso organismo é um assunto sério e que gera polêmica. Tanto que os juízes do mais importante tribunal do país estão prestes a decidir se as pesquisas feitas com células-tronco poderão continuar a ser realizadas, como permite a lei brasileira atualmente, uma vez que há grupos na sociedade contrários a esse tipo de estudo. Enquanto a decisão não é tomada, porém, que tal você saber mais sobre essas pequenas estruturas do nosso organismo?
Esta é uma colônia das chamadas células-tronco embrionárias, vista com ampliação de dez vezes. Essas células são capazes de se multiplicar e gerar até 220 tipos de células diferentes (imagem: Wikimedia Commons). |
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As células-tronco são indispensáveis para a formação de todos os tecidos e órgãos do corpo humano. As chamadas células-tronco embrionárias, por exemplo, são como células-mães, capazes de se multiplicar e gerar até 220 tipos de células diferentes, que poderíamos chamar de células-filhas. Cada uma dessas células-filhas se especializa e forma um órgão diferente, como os pulmões, os rins, o estômago, os ossos, a pele, o fígado... Até que o nosso corpo esteja completo, lá no útero da nossa mãe!
Depois que nascemos, crescemos e ficamos adultos, nosso organismo ainda possui um enorme estoque de células-tronco: as chamadas células-tronco adultas. Segundo a médica Rosalia Mendez-Otero, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as células-tronco adultas podem ser encontradas em quase todos os órgãos. “O único lugar onde os cientistas ainda não acharam células-tronco adultas é no pâncreas”, explica. Ao contrário das células-tronco embrionárias, porém, as células-tronco adultas não têm a capacidade de formar todos os tipos de células presentes no organismo. Aparentemente, elas apenas podem originar células do órgão onde se encontram.
As células-tronco adultas são estudadas pelos pesquisadores há mais de 30 anos. Atualmente, por exemplo, um tipo específico de célula-tronco adulta – as hematopoéticas – é usado para tratar a leucemia, tipo de câncer que afeta o sangue.
As células-tronco embrionárias, por sua vez, começaram a ser pesquisadas no Brasil a partir de 2005, com a aprovação da chamada Lei de Biossegurança. Como são capazes de originar células que formam os diferentes órgãos do corpo humano, os cientistas sustentam que elas poderiam realizar a renovação celular, permitindo o tratamento de graves doenças, como as que atingem o nosso sistema nervoso e os músculos.
O problema é que há pessoas e instituições como a Igreja Católica que não concordam com o uso desse tipo de células em tratamentos e pesquisas. Isso ocorre porque as células-tronco embrionárias surgem logo após a fecundação: o encontro de uma célula de reprodução masculina – o espermatozóide – com uma célula de reprodução feminina – o óvulo.
Esse encontro acontece, tradicionalmente, dentro do útero de nossas mães, formando o que chamamos de embrião. No entanto, ele também pode ocorrer em laboratório, na chamada reprodução assistida, que auxilia mulheres com dificuldades de engravidar a terem seus próprios bebês. Nesse caso, são gerados vários embriões para serem implantados no útero da futura mamãe e formarem um bebê. Nem todos os embriões, porém, são utilizados e, assim sendo, podem até ser descartados.
Mas a boa notícia é que há a possibilidade de os pais doarem para pesquisa os embriões que não foram usados. Eles jamais formarão um bebê, já que não serão implantados no útero de uma mulher, mas, a partir deles, é possível obter células-tronco embrionárias para estudo.
Na opinião de alguns grupos religiosos, no entanto, fazer pesquisas com células-tronco embrionárias significa impedir o desenvolvimento de um bebê, de uma vida, o que não seria correto. Os cientistas, por sua vez, lembram que, em seus estudos, utilizam embriões que foram criados para serem implantados no útero de uma mulher e dar origem a um bebê, mas que acabaram não servindo a esse propósito, podendo até serem descartados. Assim sendo, perguntam: por que, então, não usá-los em pesquisas que poderiam ser úteis à sociedade?
Como você pode ver, a questão é complexa. Talvez as células-tronco permitam, no futuro, a cura de inúmeras doenças, mas, ao mesmo tempo, elas contrariam os princípios religiosos e éticos de algumas pessoas. Então, o que deve ser feito? É isso o que está em discussão atualmente no maior tribunal do Brasil.
Os cientistas – e a grande maioria da população brasileira, como demonstram pesquisas já realizadas – são a favor da liberação das pesquisas com células-tronco, embora saibam que os resultados práticos desse tipo de estudo devem demorar a aparecer. “Estamos ainda muito longe do tratamento com células-tronco embrionárias em seres humanos, mas, se as pesquisas com essas células não puderem ser feitas, esse dia nunca chegará”, diz Rosalia. Essa cientista aguarda com esperança a aprovação da lei. E você? Qual a sua opinião a respeito? |
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